terça-feira, 12 de outubro de 2010

Surge um mercado bilionário

Esta é a melhor fase do setor de seguros no Brasil. As companhias se preparam para dar um salto garantindo obras gigantescas, como as da Copa e do PAC, e atraindo milhões de brasileiros que nunca tiveram seguro.

Os estrangeiros investem

O fato é que o setor vive hoje a melhor fase de sua história no país. Em 2008, enquanto o mercado mundial de seguros sofreu queda de 3% em termos reais, o brasileiro cresceu 7%. Neste ano, estima-se que o crescimento por aqui chegue a 10%. Uma pesquisa exclusiva da consultoria Accenture feita com 104 seguradoras em 16 países mostra que 62% delas planejam crescer fora de seus mercados-sede - e que os países do Bric estão no topo da lista de prioridades. "Os executivos dessas seguradoras sabem que as chances reais de crescimento estão fora dos países desenvolvidos", diz Silas Devai, responsável pela área de finanças da Accenture. É provável que isso explique a recente agressividade das seguradoras estrangeiras no Brasil. A americana Liberty contratou nove executivos no país e no exterior para montar uma divisão de apólices empresariais. A japonesa Tokio Marine tem quase 700 milhões de reais para aplicar na operação brasileira. A alemã Allianz, uma das líderes do mundo, colocou como meta dobrar a carteira de seguros para grandes obras - comenta-se que a empresa estaria estudando uma parceria com o Itaú Unibanco, que encerrou recentemente um acordo com a XL Capital (as companhias negam).
Embora envolvam somas brutais, não são apenas as obras de infraestrutura que devem movimentar o mercado nos próximos anos. Espera-se um salto no ramo de pessoas físicas -- que ainda compram poucos seguros no Brasil. Uma pesquisa do Centro de Políticas Sociais da Fundação Getulio Vargas mostra que menos da metade dos consumidores das classes A e B, que têm renda familiar superior a 4 800 reais por mês, possui seguro. A presença é ainda menor na baixa renda - na classe C, só 16% das famílias têm alguma apólice; na classe D, o percentual é de apenas 4%. "Vender para esse público é uma de nossas prioridades, é um ramo que deve estar entre os de maior crescimento nos próximos anos", diz Marco Antônio Rossi, presidente da Bradesco Seguros. De forma geral, as seguradoras descobriram o potencial da baixa renda bem depois dos bancos - as apólices populares, como os seguros de vida que custam 5 reais por mês, só começaram a ser vendidas em larga escala nos últimos três anos. Hoje, esse é um mercado que cresce cerca de 50% ao ano e vem atraindo cada vez mais investimentos.

A pesquisa da FGV também mostrou que o seguro mais contratado por consumidores de todas as faixas de renda é o de saúde - representa mais da metade dos gastos com seguros das famílias entrevistadas. Hoje, esse setor está na mira de fundos de private equity. Em setembro, a Tempo, holding controlada pela GP Investimentos, comprou a seguradora de saúde do Unibanco por 55 milhões de reais - fora outros 45 milhões de reais que podem ser pagos em até 12 meses de acordo com o desempenho da empresa. "Esse é um setor pouco afetado por crises, porque a demanda por planos de saúde é gigantesca no Brasil", diz Luiz Eugenio Figueiredo, sócio da gestora Rio Bravo e presidente da Associação Brasileira de Private Equity e Venture Capital. A Rio Bravo investiu na Exopro, empresa de implantes odontológicos, e tem outras empresas do setor sendo avaliadas, segundo Figueiredo. Espera-se que o setor de seguros de saúde passe por um processo de consolidação semelhante ao que ocorreu nos últimos anos nos demais ramos do mercado, como o de automóveis - atualmente, há mais de 1 000 operadoras de planos de saúde no país. Em novembro, já houve um movimento nessa direção: a Amil comprou a Medial por 612 milhões de reais. "É possível que muitas não tenham capital suficiente para continuar e nós procuramos oportunidades de compra", diz Patrick de Larragoiti, presidente da SulAmérica, uma das líderes do setor.

O fato é que o mercado está se concentrando, até por razões macroeconômicas. Parte das receitas das seguradoras vem da aplicação financeira dos recursos reservados para pagar indenizações. Com a queda dos juros no Brasil, o retorno desses investimentos diminuiu, e isso aumentou a pressão sobre os executivos para gerar resultados operacionais. "Ter escala é fundamental agora, porque ajuda a reduzir custos", diz José Rubens Alonso, sócio da consultoria KPMG. Isso explica o movimento de consolidação que ocorreu de 2004 para cá, quando a participação das cinco maiores seguradoras nas receitas totais do setor aumentou de 47% para 60% - hoje, as cinco primeiras do ranking são Bradesco, Itaú Unibanco, SulAmérica, Porto Seguro e Banco do Brasil. Nos últimos meses, seguradoras locais, como Marítima, Mongeral, Indiana e Minas Brasil, foram compradas por estrangeiros. Banqueiros de investimento dizem que as sondagens entre empresas para fusões, aquisições ou parcerias nunca foram tão frequentes. "Faço todo ano um mapa do mercado brasileiro de seguros para a matriz, com um relatório das 20 maiores companhias, indicando qual poderia agregar valor a nosso negócio", diz Max Thiermann, presidente no Brasil da Allianz. "Mas a decisão é tomada lá fora. O que está claro para a matriz é que o potencial aqui é enorme."

Fonte Exame

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