Não é um investimento, mas é comercializado como uma forma de poupar. Não é um seguro, mas é vendido por seguradoras e regulado pela Susep. Suas receitas e faturamento vêm crescendo a taxas superiores a 10% ao ano, mas é considerado, por quem entende de finanças, uma das piores formas de se aplicar o dinheiro. O título de capitalização, afinal de contas, é bom para quem?
Em primeiro lugar, para quem os comercializa. "É pagar caro demais para alguém tomar conta do seu dinheiro. O resultado é uma mina de ouro para os bancos e seguradoras", diz Rafael Paschoarelli Veiga, professor de finanças da USP. Em segundo lugar, para quem gosta de jogar - e tem muita sorte. "Pode até ser uma boa maneira de apostar, porque o dinheiro da aposta retorna depois de certo tempo. Mas não se deve confundir o título de capitalização com um investimento", afirma Márcia Dessen, professora da Fundação Dom Cabral e planejadora financeira.
O que eles querem dizer é que o título de capitalização é, primordialmente, um jogo. O sujeito faz uma aposta, paga em uma ou mais parcelas, concorre em sorteios e, após o vencimento do título, recupera parcial ou totalmente o valor desembolsado, mesmo que não tenha tirado a sorte grande. Ganhar no sorteio, aliás, é bastante difícil. As chances de vencer se equiparam às das demais loterias.
Não é à toa que um dos jogos mais famosos do Brasil é também o título de capitalização mais conhecido - a Tele Sena, do Grupo Silvio Santos. Mas para quem busca poupança e retorno, o título de capitalização é uma grande furada. Sua rentabilidade é menor que a da caderneta de poupança, boa parte do dinheiro aplicado fica para a instituição que o vendeu e o poupador só pode mexer nas suas reservas depois do período de carência. Mesmo assim, se ele resolver sacá-las antes do vencimento do título, não conseguirá recuperar nem o montante acumulado até então.
Não parece muito justo, mas os próprios bancos e seguradoras se justificam, alegando que o título de capitalização não deve ser comparado a outras formas de investimento. Seu diferencial estaria no "aspecto lúdico". "Se é jogo, não deveria ser vendido em banco, mas em casa lotérica", critica Rafael Paschoarelli. Ainda assim, o brasileiro continua fazendo o segmento crescer. Em julho de 2010, o mercado de capitalização abarcava mais de 20 milhões de pessoas, com reservas de 16,222 bilhões de reais.
Funcionamento dos títulos de capitalização
Para entender por que o título de capitalização é tão desvantajoso em matéria de retorno é preciso compreender o seu funcionamento. Há basicamente dois tipos de títulos. Os populares, como a Tele Sena, não se propõem ser uma modalidade de poupança, mas puramente um jogo. O pagamento é único, de valor baixo (em geral menos de dez reais) e o maior atrativo é realmente o sorteio de prêmios. O resgate não permite ao comprador recuperar a totalidade do valor da aposta, pois boa parte do dinheiro é destinada a custear os prêmios.
Já os tradicionais são vendidos como formas de "poupança programada" em que os poupadores têm, de quebra, oportunidade de participar de sorteios. O poupador paga mensalidades durante um período, em geral, de cinco anos, mas não pode resgatar nem um centavo antes de passado o prazo de carência, que costuma ser de 12 meses. Se decidir fazer o resgate antes do vencimento, não conseguirá recuperar 100% do que pagou até então. Para receber de volta todo o montante acumulado, normalmente remunerado pela poupança (0,5% ao mês + TR), precisará esperar até o vencimento.
Em outras palavras, o poupador é penalizado caso resolva resgatar seu dinheiro antes do tempo. "Não é poupança programada, é poupança forçada", diz Márcia Dessen. Apenas uma parcela do que é poupado será destinada a formar o montante a ser remunerado, a chamada cota de capitalização. Um bom percentual - a cota de carregamento - ficará com o banco. Há ainda a cota de sorteio, destinada a custear os prêmios.
São tantos os descontos que, se o poupador tivesse decidido aplicar o mesmo montante na caderneta de poupança durante o mesmo período de tempo conseguiria acumular bem mais. Isso vale até mesmo para títulos mais "sofisticados" como os que destinam um percentual da cota de capitalização a um fundo de ações.
Fonte Exame
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